quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ALEXANDRIA - CAPÍTULO IV - PARTE IV

Alguns anos se passaram desde que Napoleão havia feito o seu primeiro contato com o Vernaculista, ele já tinha fortalecido seu nome frente às campanhas de coligação, buscando sempre fazer as pessoas o idolatrar devido suas estratégias militares, assim como ele idolatrava o Vernaculista.

Napoleão encontrava-se deitado, em uma cama luxuosa, em uma casa na cidade de Paris, alguns soldados se mantinham atentos ao redor da casa, afim de proteger o general de assassinos que estavam andando por toda a França nesse período tão conturbado, onde a monarquia perdia força e muitos eram mortos.

Um soldado bate a porta do quarto do general, o mesmo já estava acordado e sentado em uma escrivaninha,onde rabiscava um texto em uma folha de papel.
- Pode entrar!
- Com licença senhor, já estão aqui as pessoas que o senhor pediu que o comboio trouxesse de Versalhes.
- Mande-os entrar!
- Sim senhor!

O soldado vai até a sala descendo uma escada barulhenta, que garantia a Napoleão saber com antecedência se havia alguém chegando próximo ao seus aposentos. O general conseguia até ouvir o que o soldado falava na sal, devido um interessante fenômeno de acústica arquitetônica do prédio.

- O general os espera, por favor, sigam-me.

O som dos passos indicava mais de duas pessoas na escada, porém não conversavam, até que o som desapareceu e Napoleão se perguntou se eles haviam parado na escada. Por alguns instantes nenhum som se ouvia dentro da casa, então Napoleão pegou uma pistola que ficava próximos aos seu joelhos na escrivaninha e apontou para a porta. Até que ele ouviu um som agudo, como o de um esticar de cordas violino, porém não vinha da sala ou da escada, mas vinha da sacada de seu quarto. Napoleão se vira para a porta de vidro da sacada e repara que a mesma estava aberta, e contra a luz duas figuras escuras se encontravam em pé perto do peitoril da sacada. O general vira rapidamente sua pistola em direção as figuras, dá alguns passos em direção a cabeceira de sua cama, onde estava sua espada, e a desembainha. Ele mira na figura da direita, pois o que estava na esquerda levaria mais tempo para entrar em seu quarto, dando tempo dele pegar a outra pistola que estava embaixo da cama, então o general puxa o gatilho, mas projétil algum sai de sua arma. Nesse momento ele sentiu um calafrio e bradou:
- Que diabos são vocês?
A figura da esquerda se vira e diz:
- Não nos tema, somos seus amigos!
Napoleão reconhece a voz e diz assustado:
- Vernaculista? Como você passou por mim sem que eu o visse? Como o som da escada sumiu?
- Muitas perguntas, porém tenho as respostas. Disse o antigo amigo.
Napoleão vai até a sacada e fica entre os dois homens e se dirige ao Vernaculista indagando-o:
- E a arma que me prometeu?
- Está ao seu lado!
O general se vira para a direita e observa o homem de capa e capuz preto, e das sombras do manto escuro podia ser vista uma barba avermelhada e uma pele muito clara.
- Minha arma? esse homem não me parece nem mesmo perigoso, me parece doente na realidade!

O Vernaculista tira seu capuz e fala bem pausadamente:
- O que você me diria de um homem que pode entrar e sair de lugares, ou se aproximar de soldados em campo de batalha, sem que os mesmos o percebam?
- Diria que é um grande assassino esse homem.
- Pois bem! Esse homem a sua direita é um homem de talento jamais visto.
- Mostre-me então!
- Devo mostrar novamente? disse o homem.
Napoleão o olha irritado e brada:
- Tire seu capuz para que eu veja sua face!
O homem se vira e diz:
- General de grandes feitos, porém sua irritação vem de uma ferida no estômago!
Napoleão gira sua espada no ar, porém o Vernaculista segura seu braço e impede o mesmo de se exaltar físicamente.
- General! Não dê ouvidos a ele... Ele está irritado pois atiraram nele hoje!
- Ninguém fala assim comigo!
- Napoleão você sabe por que sua pistola não disparou?
- Não sei, acredito que a pólvora seja de qualidade ruim... tivemos um problema parecido com algumas munições durante a campanha, vieram de um carregamento que caiu no mar e estragou as balas.
- Uma boa explicação, porém observe aqui no batente da sua porta, há um estrago causado por disparo de arma de fogo. E com certeza é um tiro de sua pistola!
- Não pode ser, eu disparei ela contra você agora mesmo... Não me lembro de ter atirado em outra direção!
- Meu amigo, que horas o seu soldado informou-lhe sobre nossa chegada?
- Acredito que eram em torno das nove horas da manhã... Mas não estou encontrando meu relógio para ver que horas são agora.
- Muito bem! Vê ali na entrada da sua casa... um brilho perto da porta... vá até lá, aquele é o seu relógio.
Napoleão sai em direção às escadas e descendo ele encontra na sala o soldado que foi lhe informar sobre a chegada de seus convidados, porém o mesmo se encontrava de pé, marchando em direção a saída da casa.
- Soldado o que está acontecendo?

Porém o mesmo não responde, nem mostra movimento respiratório, parecendo uma estátua. Então napoleão vai até onde estava seu relógio, e o pega do chão. Ao olhar no visor de cristal ele percebe que haviam passado duas horas desde a chegada do Vernaculista e do misterioso e insolente amigo.
O general vai até o soldado e pega de seu bolso o relógio e vê que o mesmo marcava ainda nove horas, porém o mesmo estava parado, com o ponteiro tendo uma pequena vibração, como se algo o impedisse de prossegui o caminho, enquanto que o ponteiro do seu relógio se movia normalmente. Napoleão vai até a cozinha para pegar uma faca e tentar abrir o tampo traseiro do relógio de seu soldado e ver se não havia falta de alguma engrenagem e então nota algo extremamente fora do normal. A torneira da pia gotejava, porém a gota não caia na pia, simplesmente desaparecia no ar. Voltando ao seu quarto Napoleão se dirige ao Vernaculista que agora se encontrava de pé dentro do quarto e segurando a espada do general.
- Notei coisas curiosas acontecendo, mas não sei explicar!
- Essa é a quarta vez que você diz isso hoje meu amigo.
- Não compreendo!
Então o Vernaculista se põe a explicar:
- Nossa arma, não é um homem comum, que consegue matar somente rápido seus inimigos, mas sim, um homem que pode matar exércitos inteiros! Esse homem se usa das melodias tiradas de seu violino para conseguir paralisar a realidade e consequentemente o tempo, na realidade, com a música ele consegue instalar imagens em sua cabeça, te hipnotizando e abrindo espaço para ele fazer o que deseja.
Nesse instante Napoleão se vê sentado em sua escrivaninha e na sacada duas figuras em pé contra a luz, porém uma das figuras estava finalizando um réquiem de violino, então o general se levanta, deixa cair sua pistola e sussurra:
- Agora eu compreendo tudo!