sábado, 27 de fevereiro de 2010

Papirus Alexandrinus - Capítulo IV - Parte I

523 a.C - Costa banhada pelo Mediterrâneo em pleno mar...

Estavam aqueles homens, no meio da terrível tormenta, seu barco era arremessado de um lado para o outro com extrema violência. Homens se seguravam nas cordas que desciam do mastro, parecia que tudo estava perdido. Os relâmpagos cruzavam o céu, e o estrondo dos trovões era insuportável; “Homens ao mar” era uma frase escutada com freqüência, os clarões dos relâmpagos iluminavam as águas daquele bravio, profundo, escuro e triste mar. Em suas águas homens lutavam por suas vidas, mas eram levados para longe do navio a todo instante.

No timão do navio, era vista uma figura sombria a sorrir, os clarões o iluminava, a chuva o atacava com força, mas ele continuava austero, rígido, de pé conduzindo o navio. Suas vestes eram negras como o céu, mas brilhavam, pois estavam molhadas, quem o observava acreditava que ele tentava salvar todos, e por isso se destacava, mas na verdade ele era completamente indiferente com os homens que se encontravam dentro daquele navio. Eles não passavam de simples Sucubus, o que estava no compartimento de carga, isso sim era de extrema importância, sendo a vida daqueles homens dispensáveis em comparação com o artefato guardado na pesada arca ¹.

A tormenta não dava um momento de descanso, os homens estavam exaustos, não agüentariam por muito tempo, o mar seria uma grande cova coletiva para eles. Enquanto se amarravam nas cordas que pendiam do mastro, uma gargalhada terrível era ouvida, algo completamente aterrorizante para o momento. Algo das profundezas das sombras; aquele capitão parecia ser um demônio.

O medo agora não era mais do mar bravio, mas sim do terrível capitão, ninguém sabia alguma história ou o conhecia, ele tinha surgido do nada. Era assustador observar aquela figura de pé na chuva, gargalhando, ele devia ser muito forte, pois não era arremessado ao mar, mesmo com as grandes ondas quebrando no casco.
A sua face não era estranha, provavelmente algum rosto muito próximo daqueles que se encontram nos afrescos dos templos lá da Fenícia.

Enquanto todos os marujos pediam para o deus do sol e da chuva, Baal, para conseguirem voltar com vida para suas casas, a figura macabra só sorria, com enormes e brancos dentes. E as vezes parecia que cantava em uma língua estranha, algo muito antigo, algo tão parecido com ele, que as vezes acreditava-se que ele falava sobre si mesmo.
A Tempestade não parava e os homens prometiam a Baal que iriam adorá-lo mais se saíssem da grande tempestade. Eles gritavam e rezavam bem alto.

Depois de umas três exaustivas e violentas horas, a tempestade parou, o mar se aquietou, e a escuridão caiu sobre os homens sobreviventes, uma vez que não mais havia a luz dos relâmpagos cruzando o firmamento. Na cabeça deles Baal havia escutado seus pedidos, estavam a salvo.
Este era também o Senhor da Cidade, pois seu templo se encontrava em uma grande cidade da Fenícia, lá eram feitas as oferendas a ele. Baal cobrava de seus vassalos, crianças e jovens virgens, para sacrifício de sangue ².

Os marujos, quando pisaram na terra, removeram do convés a pesada arca, sem fazerem a mínima idéia do que havia dentro. O sol nascia, e os homens puxavam pela areia o baú, em direção a uma caverna incrustada na parede de uma rocha titânica. Os mesmos nunca mais foram vistos, muitos dizem que serviram de oferenda a Baal por parte do capitão. Outros dizem que o próprio Baal era o capitão, e que após atender o pedido daqueles homens, o mesmo veio cobrar o lhe pertencia por direito.


(1) Naquela grande arca no fundo do navio, havia uma poderosa arma, forjada da materialização das sombras mais profanas e demoníacas, das catacumbas de diversos lugares do planeta. Uma matéria escura se encontrava lá dentro, era única no mundo, e mortal para os inimigos. Dessa materialização se forjaria uma poderosa armadura, com um arsenal próprio.

“A barca da morte estava no mar, o barqueiro trazia em sua face, a imagem da felicidade em ver o desespero e o caos dos que passavam em sua frente. Seu sorriso era gélido e debochado... Algo simplesmente do inferno...”


(2) Baal na realidade não era um deus, mas sim um grande Incubus Suseranus, que tomava conta da região. Ele era oriundo de uma importante família de Atlântida, possuindo um terrível exercito na ilha, por isso mesmo entre os Incubus ele era muito respeitado. Recebia de toda a parte presentes a seu culto, geralmente jovens e garotas. A maior exigência que cobrava de seus Vassalos, eram suas filhas quando grávidas, pois assim poderia se alimentar do sangue de uma jovem e do poderoso sangue de uma criança ainda não nascida. Quando isso ocorria, mais forte o mesmo ficava.

“Baal era um deus terrível para sua população e para seus inimigos, belas e saudáveis jovens em época fértil ou mesmo grávidas eram levadas a ele para seu culto... Para servirem de alimento ao poderoso glutão...”