sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ALEXANDRIA - CAPÍTULO III - PARTE VIII

O Rei com certeza parecia o sol ficando a frente daquela janela, por alguns instântes o menino acreditou que toda a luz vinha do próprio rei. O Vernaculista lhe dá um tranco, puxando o braço e fazendo com que o garoto se ajoelhe.

Uma sensação estranha passava no coração do pequeno, e como tudo que é estranho acaba trazendo medo a princípio, uma grande relutância em olhar para frente se criava na mente dele. O homem que era comparado ao sol começa a falar em uma lígua estranha, e o Vernaculista responde, começando a falar sem parar, gesticulando e apontando para o menino, até que ele fala uma palavra conhecida: "Mikháilo".
- Mikháilo é o nome dele? Pergunta o rei em francês.
- Sim. Um nome típico da região, Senhor.

O menino levantou a cabeça e olhou fixamente para o Vernaculista, ele não entendia nada de francês, mas havia escutado seu nome e queria saber o por que do mesmo ter sido citado. O pequeno tinha noção que o seu povo o considerava já um homem adulto, e quando o nome de um homem adulto era dito, aquele que o diz tem que se explicar por que o diz.

O rei olha para o menino, e o menino devolve o olhar, não mais ajoelhado, mas de pé, com olhar fixo como se quizesse saber o que aquele homem queria.
- Vernaculista?
- Fale magestade.
- Por que esse menino me encara dessa forma? Quando eu o vi pela primeira vez ele estava com medo, escondendo o rosto, e agora está me encarando?
- Não se ofenda senhor, ele está assustado e não tem ideia do que está acontecendo em sua vida, se afastar da família não é algo fácil.
- Eu não estou interessado em um menino ligado a laços passados, eu quero um assassino, coloque-o no treino militar e faça-o se tornar um assassino.
- Meu senhor permitiria que eu viesse a falar?
- Fale Vernaculista!
- O potêncial desse garoto não está vinculado a força bruta.
- Está vinculado a que?
- Em vez de leva-lo a um treino rigoroso, dê-lhe um treino baseado em movimentos leves e o mais importante, dê-lhe um violino.
- Umas espada ou um mosquete é mais efetivo para um assassino!
- Senhor se me permitir, quero lhe dar uma mostra do que me refiro.
- Vamos, surpreenda-me!
- Tenho aqui comigo um violino e uma ampulheta, irei dar o violino para o garoto, e a ampulheta ficará com o senhor.

O Vernaculista entrega a ampulheta ao rei e o violino a Mikháilo e então fala na lígua natal do garoto:
- Vamos Mikháilo toque! Raspe o arco nas corda do instrumento.
O menino começa a tirar um som desafinado e sem lógica, não era música mas sim barulho, algo normal para uma pessoa que não sabe nem segurar um violino, logoo rei se zanga e fala:
- Está de brincadeira comigo Vernaculista? Deseja ferir meus ouvidos?
- De forma alguma senhor. Por favor olhe a ampulheta.
O rei observa a ampulheta e percebe que quando o som não saia desafinado, a areia da ampulheta parava.
- O que significa isso?
- Senhor, esse menino tem a capacidade de parar o tempo.
- Como assim, enquanto ele tocava eu só vi a areia parar, mas a gente não parou, nem o que estava ao redor.
- Senhor, como essa habilidade é vinculada ao tempo, ela tende nos seus estágios iniciais a somente parar os símbolos temporais, como a ampulheta por exemplo, porém com muito treino ele vai conseguir parar o tempo no campo de batalha.
- Agora compreendo, será um grande assassino!
- Sim meu senhor! Permite que eu traga os melhores professores de música para deixar o som que ele venha extrair do violino o mais afinado possível?
- Vá! Consiga o melhor!
- Sim meu senhor!
Antes de sair da sala o rei se vira e pergunta ao Vernaculista.
- Por que um violino? Eu gostaria de ouvir o som de cravo aqui pelo palácio.
- Meu senhor... Um violino pode ser facilmente levado em um campo de batalha, já um cravo seria muito difícil.
- Parece que você já pensou em tudo Vernaculista, está me surpreendendo muito ultimamente.
- Faço pelo senhor.
- Eu não gosto de ser surpreendido, se sou surpreendido não estou no comando mais... Fixarei mais meus olhos em você.
Saindo da sala o rei libera a cortina que tapa a entrada do sol pela janela e escurece a sala por um todo.