terça-feira, 4 de maio de 2010

Papirus Alexandrinus - Capítulo IV - Parte IV

Com sua ira acalmada, a criatura espera pelo seu senhor, que prometera vir buscar a preciosa carga naquele dia. Ele esperava, sonhava, devaneava, com a esperança das riquezas que existiam dentro da arca, o que poderia ter tanto poder quanto aquilo.

Era manhã, o céu estava nublado, uma brisa gelada vinha do oeste, as areias da praia agora pareciam opacas, as sombras se jogavam nos penhascos, as ondas quebravam na praia fazendo um som leve e que acalmava. Ao longe, bem no horizonte se via a grande galé negra que se aproximava. Suas velas negras, suas bandeiras aterradoras e sua proa com uma enorme cabeça de demônio, um servidor de Baal.

A grande e sombria galé se aproximava lentamente, até que a uma certa distância da praia a mesma parou, soltando ao mar duas âncoras pesadíssimas. Um barco, um pequeno bote, foi posto às águas e remado por figuras sinistras vinha em direção à praia. Eram os servidores de Baal.

Chegando onde as ondas quebravam, três figuras desceram do barco. Três grandes figuras, que caminharam em direção a gruta que se encontrava a frente. Logo após, dois dos três voltaram carregando a grande e pesada arca, segurando pelas suas alças.
A terceira figura se assegurava, que nenhum sinal da arca tinha ficado para trás. Os três, mais a criatura que já se encontrava na praia, subiram no barco e remando com força, foram em direção a galé. Arca então foi inçada e colocada no convés da grande condução.

O destino agora não era mais a Pérsia, mas sim um outro refugio para sombrio artefato, eles se encaminhavam para a poderosa Arcádia ¹. Onde Baal é conhecido como Hades, O Senhor do Mundo Inferior.
Com velocidade a galé cortava o mar, pois a sua carga era valiosa e necessitava chegar até seu mestre. A carga clamava por isso, ela chamava seu mestre e seu mestre a chamava. Em alguns momentos um grande ribombar saia de dentro da arca. Algo grande e impressionante estava por vir.

Nos portos da Arcádia, uma grande comitiva esperava a carga, guerreiros fortes, sombrios e de pele muito alva, estenderam seus braços para carregarem a arca até uma biga dourada, de onde rumou para as margens do Styx ². Entrada secreta para o Mundo Inferior, onde Hades dominava, onde ele era o senhor.
Mais uma vez a arca foi posta dentro de uma barca, mas desta vez conduzida por uma só figura, talvez a mais sombria de todas, ele era o barqueiro, que encaminhava os Sucubus ao Incubus – mor que era Hades.

Passando pelos portais e sendo aceito de bom grado pela fera do Mundo Inferior, o Demônio do Poço ou mesmo Cerberus, a carga esperada por Hades chegara a sua verdadeira casa.
O próprio Hades se encaminhou até os portões, e lá abriu a arca, tudo ficou mais escuro ainda, mas agora a pele clara até azulada do Senhor do Mundo Inferior estava coberta com uma couraça negra. Sombras haviam sido forjadas em metal, a poderosa armadura de Hades estava pronta, vinda da distante Atlântida, terra natal do mesmo, agora ela cobria o corpo de seu mestre, agora ela poderia demonstrar toda a energia que possuía. Hades a chamava de Pandora.



(1) Arcádia era o nome que a Grécia tinha em alguns períodos da história antiga


“E eles caminharam, se dirigiram, rumaram para aquela região de solos pobres, mas de gente forte, sábia e guerreira... Abençoada pelos deuses...”



(2) Styx é o nome do Rio dos Mortos, também conhecido como Estige, faz parte de um dos seis rios que levam ao Mundo Inferior. O Styx é o Rio da Imortalidade, ou seja, por onde a imortalidade entra no Mundo governado por Hades. Esta imortalidade era totalmente consumida por ele, na forma de Sucubus.

“Era terrível observar Caronte se aproximando com a barca, ao contrario do que todos dizem, o mesmo não cobrava moedas como óbolo, mas sim um pouco do sangue de seus passageiros, dentro de uma jarra de prata... Recompensa dada por Hades... ”