domingo, 3 de abril de 2011

ALEXANDRIA - Capítulo I - Parte V

NOVAMENTE O PRESENTE
O som do trotar do cavalo naquela estrada deserta, criava uma espécie de música macábra, juntamente com a lua um pouco encoberta com nuvens plumbeas, trazia uma visão soturna e melancólica. O cavaleiro, coberto com um manto negro e encapuzado, fazia com que a mais profunda escuridão parecesse algo pouco amedrontador, se comparado com sua presença, pois nada podia dete-lo, ele era o senhor da noite. Quando cruzava os vilarejos, as pessoas acreditavam ter visto um dos quato cavaleiros apocalípticos, aquele que trazia a morte ao meio dos homens.
Mas na realidade a figura sombria não passava de um humano, com interesses humanos e vontades humanas. Um homem que teve uma infância perturbadora, não conheceu o afeto de um pai e nem o afeto de uma mãe, que morreu em seu parto. Foi treinado para ser forte, um grande assassino e fazer parte da lenda de seus antepassados.
Ele se encontrava nas estradas sombrias da Romênia, voltava a toda velocidade de Paris, fazia alguns dias que estava no lombo do cavalo, durmindo mal e tão pouco se alimentando bem. Estava voltando de seu trabalho, mais um bem sucedido trabalho e agora devia prestar contas a seu empregador.
Chegando naquele pequeno vilarejo, com o cavalo bufando de caçado, a figura sombria salta da montaria e a conduz pelo arreio até um poste, onde a amarra com cuidado. Ele agrada o cavalo, passando sua mão pelo pescoço do animal, afinal aquele tinha sido seu companheiro por muito tempo, um amigo que o seguiu sem objeções por grande parte da Europa.
Logo a frente se via uma estalagem e lá se encontrava o seu empregador, em um dos quartos, o esperando impaciente. Ele entra na estalagem, e logo o estalangeiro vem em sua direção entregando uma chave e dizendo:
-Estão te esperando a dois dias... Você foi mais rápido que o previsto, eles acreditavam que chegaria no mínimo em uma semana... O bom que pagaram adiantado!... Primeiro quarto a esquerda.
Andando pelo corredor ele observa o lugar, e nota que a estalagem não está em boas condições, goteiras e assoalho que range, coisas que um assassino odeia, pois são fatores que denuncia sua presença. Chegando no fim do corredor, a esquerda havia uma porta sem número, alí dentro se encontrava o seu empregador. Abrindo a porta ele depara com o homem bem vestido, sentado em uma mesa, comendo uma perdiz assada, possuia bigode e cabelos negros, a sua direita se encontrava um guarda armado com uma espada e a sua esquerda um homem com ar aristocrático. O homem que comia não era ninguém menos que José II, o déspota do Sacro Império Germânico, e o homem com ar aristocrático, seu irmão Leopoldo II.
-Parabéns assassino! Chegou antes do que imaginavamos, praticamente uma semana antes da data que haviamos combinado a um ano atrás. Eu tive que inventar uma história dizendo que iria vistoriar pessoalmente e secretamente, uma comitiva que trazia documentos importantes, agora vou voltar antes, melhor assim... 
Pelo menos chegarei de surpresa e terei a chance de criar um bode-espiatório alegando crime contra o império e matar algumas pessoas por pura diverçã... Vamos lá estou de bom humor! O que tens para mim? 
-Aqui está a prova de meu sucesso. E retirou de uma bolsa de couro vários medalhões com um escudo real.
-Pode conta-los, verá que toda a família foi exterminada... Alteza! Dizendo com um tom de desprezo.
-Muito bom, mas me parece que você não gosta do que faz... Despreza meu gosto pela morte rapaz? Sabe que sou o imperador e tenho o domínio sobre a vida de meus servos? 
O homem sombrio não responde e olha pela janela preocupado com seu cavalo, pois as núvens que cobriam a lua tinham se tornado carregadas e uma tormenta se aproximava. 
-Rapaz eu sou o imperador, minha vontade é a lei! É tanto lei, que mandei investigar você, parece que não tens um passado, mas pelo menos seu nome eu descobri Vladslau!
-Não me importo, isso é passado, morto e enterrado... Hoje as pessoas me chamam de Mácula! 
-Leopoldo pague o que resta e o acompanhe até a porta... Parece que Vladslau se preocupa mais com sua montaria, do que com sua vida.
O homem retira uma bolsa de veludo e entrega a Mácula, acompanhando-no até a saida da estalagem.
-Escute... Estou interessado em seus serviços, na realidade creio que todo o império, menos José o esteja nesse momento... Muitas famílias nobres morreram nesses ultimos anos, mas agora, com a morte dessa família, não restou mais ninguém que tem coragem de se opor a ele. Sei que está preso a um contrato, mas assim que o contrato acabar, olhe na bolsa que lhe dei, nela há um fundo falso... Lá você irá encontrar mais moedas de ouro, mais precisamente o dobro do que meu irmão está lhe pagando agora... 
-Entendo o que quer... É bem mais nobre matar um imperador do que um menino descalço... Não posso fazer agora, mas daqui algum tempo seu irmão irá cair e sua mão não estará com sangue, mas sim minha lâmina.
Mácula solta sua montaria, monta na sela e acarecia a cabeça do corsel negro, olha para o horizonte escuro, onde os primeiros relâmpagos apareciam. Agora era a hora do retorno, a hora de voltar para casa, um momento de apaziguar seu instinto e se preparar para mais uma missão. Ele estava de volta a sua terra natal, Vladslau retorna para a Transivânia.