terça-feira, 18 de outubro de 2011

ALEXANDRIA - Capítulo II - Parte I

Naquela época era tudo muito frio, tempestades geladas tomavam conta da Europa, várias nações eram subjugadas ao poder gelado da neve. Junto com a neve, que caia em pequenos flocos do céu, galopava a morte montada em seu cavalo cinza, de uma tonalidade extremamente mórbida, ceifando ricos e pobres, não deixando nenhum fraco de pé. Sem abrigo qualquer pessoa era vítima desse cavaleiro implacável.

Muitas crianças eram deixadas em igrejas nessa época, pois os pais não tinham como sustenta-lás, então as entregavam para aqueles que podiam ter misericórdia e as acolherem. Com isso muitos jovens cresceram sem conhecer os pais, alguns morriam, outros se tornavam padres e irmãs, enquanto outros fugiam para tentar serem livres.

Esses jovens eram um grande problema para os nobres, pois eram um exército em potencial e se tivessem vontade de invadir suas terras e tomar tudo, conseguiriam, pois seu número era muito maior. Então para evitar esses problemas os nobres mandavam emissários até as igrejas, e dessa forma convocar e empregar como aprendizes de soldado e de mão de obra na contrução civil e belicista. Evitando assim grandes problemas com revoluções.Aqueles que fugiam tinham dois destinos, morrerem nas ruas e vielas ou se tornarem larápios e assassinos.

Um desses jovens catalogado como orfãos e por isso sem sobrenome, chamado Pierre, vivia em um mosteiro na França, tinha tudo para se tornar um grande mestre vinhateiro, iria aprender todos os segredos dos monjes na fabricação da tão viciante bebida rubra. Não se pode dizer que era triste, mas sua família estava morta, seus pais haviam contraído peste e o entregaram-no aos monjes antes de ser infectado, sabia que seus pais tinham feito o melhor por ele. Mesmo com o fardo de não ter convivido com seus progenitores, pois tinha chegado muito novo ao mosteiro, o jovem Pierre crescia forte em corpo e alma.

Mas a vida é algo bastante interessante, numa noite chuvosa, um grupo de saqueadores invadiram o mosteiro e mataram todos que lá viviam, menos o jovem, pois havia sido escondido em um velho tonel de vinho por um dos seus amigos monges, e lá ele ficou por um dia inteiro, até não escutar mais vozes e barulhos de vidraças sendo quebradas. Quando Pierre abriu a tampa do tonel, somente viu corpos de seus amigos dilacerados, a vinha em chamas e a porta do mosteiro aberta. Ele não pensou duas vezes e correu em direção a saida.

Correndo pelo barro, tão frio quanto a neve, o jovem Pierre chorava e se distanciava de seu lar, o local onde seu mundo havia sido construído e onde sua alma vivia em paz, agora tudo não passava de um grande túmulo.

Pierre permaneceu como um andarilho por alguns dias, se alimentava das frutas queimadas pelo frio que relutavam a cair de uns pobres pomares e bebia água de poças, estava vivendo com um animal. Os animais por sua vez, são preparados para enfrentar o inverno, o jovem Pierre não era, sendo que em algum momento o mesmo adoeceu e caiu em baixo de um pé maçã. Lá ele foi socorrido por um grupo de ciganos que viajavam pela Europa toda, eles eram Húngaros e sabiam muitos segredos sobre medicina.

Com um sotaque carregado, o jovem Pierre foi acordado por um homem de lenço rubro na cabeça, brincos de ouro e um grande bigode negro como carvão.

- Acorde meu jovem! está entre amigos! disse o homem, oferecendo-lhe uma prato de sopa.
- Onde estou? balbuciou o menino.
- Encontramos você quase morto, debaixo de um pé de maçã... Qual seu nome criança?
- Sou Pierre, vivia om os monges, mas um bando de saqueadores invadiram o mosteiro e matou a todos, eu só escapei pois me esconderam dentro de um antigo tonel de vinho.
- Então você não tem família! Está só no mundo!
- Sou orfão de pai e mãe, não tenho irmãos, não sei meu sobrenome, só me chamavam de Pierre.
- Então... Se quiser, se sentir a vontade conosco e o mais importante, se quiser vingar-se daqueles que mataram seus amigos monges... encontraste uma família. 
- Como me vingar... eram tantos!
- Se nos aceitar como família, se mostrar que tem coragem e força, terá direito aos nossos segredos e ao nosso tesouro!
Foi nesse momento, onde a chama da vingança surgiu no coração de um inocente, que desencadeou um evento poderoso previsto por uma profecia cigana:
"Sob uma macieira, se encontrará adormecida a vingaça e o poder, que sob o júbilo do nômade se unirão com a ira, criando um deus entre os homens."