sábado, 10 de abril de 2010

Papirus Alexandrinus - Capítulo IV - Parte III

Então, aquela criatura sinistra toma uma atitude inesperada, ele se levanta e caminha na direção da caixa sombria. Ainda com medo, seus pés vão sendo arrastados na areia dentro da caverna, que agora mais parece um covil com cadáveres pelos cantos, até que ele chega e encosta uma das mãos sobre a arca.

Um grande poder é emanado de dentro, algo sombrio e assassino adormece lá, algo que passa pelo corpo daquele capitão, algo que lhe dá vigor e coragem, realmente algo das sombras.

As suas mãos começam a escorregar pela tampa da arca, até que chega no grande cadeado, que lacra aquilo que era um cofre. O contato, passa a puxões frenéticos, que levam a um estúpido e violento ataque de raiva. O capitão estava enlouquecido, e tentando violar algo que pertencia a seu senhor, algo passível a condenação de morte. Morte a um morto.

Ele não conseguiu abrir a grande arca, suas mão estavam esfoladas, seu ego inflamado, e as frases elogiosas a seu senhor deram lugar aos xingamentos de um alucinado. Algo lhe atraia para a arca, mas esta era inviolável, somente Baal poderia abrir ¹.

O som do mar contra as rochas lhe dava mais raiva, que crescia a todo instante. A besta se levanta da areia e corre em direção da praia, lá ele vê, uns pescadores voltando de um dia de pesca, arrastando as redes pela praia. A criatura se aproxima em grande velocidade, sem barulho e sem alarde, com sua mão direita, ele transpassa um dos pescadores, abrindo-lhe um grande rombo nas costas e expondo suas vísceras.
Os outros pescadores horrorizados largam para trás a pesada rede e correm em direção a uma estrada calçada de pedras, logo ao terminar da praia.

Os pescadores gritavam, corriam e choravam, mas não eram rápidos, nem fortes o suficiente para enfrentar a terrível criatura que os perseguia. Após matar todos os outros o capitão encurrala em uma pedra o ultimo pescador, lá ele o segura pelo braço direito com a mão esquerda, e com a outra aperta sua garganta. Com um movimento rápido, a criatura separa braço e cabeça do corpo, rasgando-o, como quem rasga um pergaminho em dois. Um rio de sangue banha aquelas areias brancas.

Após isso sua raiva foi abrandada e ele voltou calmamente para a caverna, onde estava o responsável por sua ira ². Ele senta sobre uma rocha, estica os pés e fecha os olhos. Adormecida a criatura relaxa na escuridão da caverna, enquanto o sol nasce e as gaivotas e urubus se deliciam com o banquete que encontram sobre as areias brancas.



(1) Somente Baal poderia abrir o cadeado que lacra a arca, pois somente ele possui a chave, que é constituída do mesmo material que o cadeado, ou seja, sua própria sombra. O cadeado e arca respondem somente ao mestre, tornando assim inviolável o conteúdo.

“Ele ordenou e a arca se abriu... Ele ordenou e as mortes vieram... Ele ordenou e as trevas caíram... Ele ordenou e a tristeza se fez...”


(2) O conteúdo da caixa é responsável pela ira da criatura, na realidade esta é a sua função, fazer com que o detentor do conteúdo da arca tenha um exército inflamado a seu controle.

“Somente a visão da mesma era o suficiente para gerar a carnificina”