quinta-feira, 21 de abril de 2011

ALEXANDRIA - CAPÍTULO I - PARTE VI


Ainda na estalagem, José II conversa com seu guarda, antes que seu irmão retorne ao recinto.
-Escute, vá lá fora e dê o sinal para os homens atacarem o assassino na estrada, ele sabe muito, e é um mercenário, se contratado pela pessoa certa pode me matar.
-Sim senhor, vossa majestade!
O sinal eram fogos de artifício, que liberavam uma luz vermelha, mas sem o estouro característico. Eles se encontravam escondidos no fundo da estalagem. O jovem soldado, logo acende e uma rajada rubra e brilhante cruza o firmamento escuro, chegando mais alto que os pinheiro, o suficiente para o destacamento que estava a algumas milhas dalí vissem o sinal. O cavaleiro se aproximava em grande velocidade, e como estava de costas para a estalagem, não pode ver o sinal no céu. Logo a frente uma emboscada era formada, homens corriam entre as sombras, deitavam no chão e preparavam seus mosquetes, para uma saraivada de chumbo, numa formação cruzada, deflagrando as armas pelos flancos do cavaleiro.
No escuro a figura se aproximava, o trotar do cavalo era ouvido, chegando veloz, o solo tremia com a aproximação. De trás de um pinheiro um homem com um abastado bigode, vestindo uma casaca militar, mantinha seu sabre levantado, todos os mosquetes cupiriam seus projéteis, quando ele ordenasse. A noite estava quieta, nenhum som de animal era ouvido, somente uns relâmpagos seguidos de trovões longinquos se atreviam a quebrar o tumular silêncio.
O som dos disparos poderiam ser ouvidos da estalagem, após a queda do assassino, estava combinado que um raio rubro e brilhante também iria cruzar o céu. José se mantinha de pé na janela, observando o horizonte, a espera do sinal.
No caminho o som do trote do cavalo começava a perder intensidade, até desaparecer, como se o cavalo havia parado. Do meio das árvores, um grito, e um soldado desaba ao chão. Estava com a garganta decepada.
O homem com o sabre, já não mais o mantia erguido, mas sim agora empunhava uma pistola, e gesticulava com as mãos, mostrando uma estratégia de abordagem ao adentrarem entre os pinheiros. Mas logo, no meio deles, surge Mácula, saltando do alto de uma árvore. Ele empunhava uma corrente fina, mas de metal resistente, forjada com lâminas entre os grilhões, na ponta havia uma pequena massa esférica.
E Mácula logo gira a corrente, prendendo-na nos pescoços de dois soldados, e com um puxão rápido, a corrente correu pelos pescoços, com se cada um fosse uma polia de navio, cortes profundos se abriram e muito sangue jorrou com intensidade, esses dois não tiveram nem chance de gritar, dessa forma não alertaram o destacamento. Com uma corrida e um bater de pé no tronco de uma ávore, ele joga a corrente, que se enrola em um galho forte, o suficiente para ele saltar de uma árvore a outra. Diferente de seus inimigos, Macula conseguia ver no escura, além de ter uma mira incrível, e se utilizando de seu dom do equilíbrio, ele conseguia ver a movimentação daqueles homens de forma bem devagar, ou seja, seus dons lhe davam uma vantagem arrasadora sobre os soldados de José II.
Do alto das árvores armadilhas eram preparadas, pequenas forcas dentadas, desciam quando um soldado passava, vários tiros eram disparados na escuridão das copas, mas sem acertar nada. Até que chegou um momento onde as balas acabaram, e depois um momento onde os homens acabaram. Todos caíram, com gargantas decepadas, sem saberem como era a face do assassino que levou suas vidas. Naquela noite dez homens morreram de forma violenta, sem conseguirem se defender.
José ouviu os disparos, mas não viu a rajada prometida cruzar o céu, mesmo assim ele colocou um sorriso no rosto, ele enrolou as pontas do bigode e tomou um cálice de licor.
-Que esse bastardo conheça o tridente do demônio. Disse José, dando uma gargalhada.
Mas voltando a janela, sobre a luz da lua que se encontrava meio escondida, uma figura montada em um cavalo se colocava de pé na frente da janela do quarto do imperador, ele segurava um rojão, aquele que seria utilizado como sinal de vitória. Logo ele o acende e mira na direção do imperador de pé na janela. O mesmo vê a sombria figura e se assusta, ficando imóvel de medo. O rojão acerta a janela, despedaçando-a, saraivando José II com cacos de vidro.
-Majestade, majestade... O senhor está bem! Gritava o soldado que havia permanecido na estalagem.
José se levanta tonto, cego por causa do clarão e com vários cortes no peito e rosto, somente cortes superficiais. Não eram o suficiente para causar morte, mas os suficiente para ferir o orgulho do déspota.
-Eu o quero morto! Exclamava o imperador.
Mas ninguém tinha coragem de ir caça-lo, ele era considerado por muitos um dos cavaleiros do apocalípse, e estava fazendo juz a seu apelido. Parecia ser imortal, a noite devia ser uma extenção de seu corpo, sua lâmina correspondia a luz da lua penetrando por entre as núvens e sua voz o pranto de todas as criaturas noturnas. Esta alegoria em torno de sua figura ficou mais forte na Europa, quando dentro dos círculos de poder se descobriu o verdadeiro nome daquele assassino, Vladslau Draculius III, proveniente direto da linhagem de Draculius, vulgarmente conhecido como Dracula, que era seu avô, um conde e também assassino, mercenário a serviço de vários reinos.

domingo, 3 de abril de 2011

ALEXANDRIA - Capítulo I - Parte V

NOVAMENTE O PRESENTE
O som do trotar do cavalo naquela estrada deserta, criava uma espécie de música macábra, juntamente com a lua um pouco encoberta com nuvens plumbeas, trazia uma visão soturna e melancólica. O cavaleiro, coberto com um manto negro e encapuzado, fazia com que a mais profunda escuridão parecesse algo pouco amedrontador, se comparado com sua presença, pois nada podia dete-lo, ele era o senhor da noite. Quando cruzava os vilarejos, as pessoas acreditavam ter visto um dos quato cavaleiros apocalípticos, aquele que trazia a morte ao meio dos homens.
Mas na realidade a figura sombria não passava de um humano, com interesses humanos e vontades humanas. Um homem que teve uma infância perturbadora, não conheceu o afeto de um pai e nem o afeto de uma mãe, que morreu em seu parto. Foi treinado para ser forte, um grande assassino e fazer parte da lenda de seus antepassados.
Ele se encontrava nas estradas sombrias da Romênia, voltava a toda velocidade de Paris, fazia alguns dias que estava no lombo do cavalo, durmindo mal e tão pouco se alimentando bem. Estava voltando de seu trabalho, mais um bem sucedido trabalho e agora devia prestar contas a seu empregador.
Chegando naquele pequeno vilarejo, com o cavalo bufando de caçado, a figura sombria salta da montaria e a conduz pelo arreio até um poste, onde a amarra com cuidado. Ele agrada o cavalo, passando sua mão pelo pescoço do animal, afinal aquele tinha sido seu companheiro por muito tempo, um amigo que o seguiu sem objeções por grande parte da Europa.
Logo a frente se via uma estalagem e lá se encontrava o seu empregador, em um dos quartos, o esperando impaciente. Ele entra na estalagem, e logo o estalangeiro vem em sua direção entregando uma chave e dizendo:
-Estão te esperando a dois dias... Você foi mais rápido que o previsto, eles acreditavam que chegaria no mínimo em uma semana... O bom que pagaram adiantado!... Primeiro quarto a esquerda.
Andando pelo corredor ele observa o lugar, e nota que a estalagem não está em boas condições, goteiras e assoalho que range, coisas que um assassino odeia, pois são fatores que denuncia sua presença. Chegando no fim do corredor, a esquerda havia uma porta sem número, alí dentro se encontrava o seu empregador. Abrindo a porta ele depara com o homem bem vestido, sentado em uma mesa, comendo uma perdiz assada, possuia bigode e cabelos negros, a sua direita se encontrava um guarda armado com uma espada e a sua esquerda um homem com ar aristocrático. O homem que comia não era ninguém menos que José II, o déspota do Sacro Império Germânico, e o homem com ar aristocrático, seu irmão Leopoldo II.
-Parabéns assassino! Chegou antes do que imaginavamos, praticamente uma semana antes da data que haviamos combinado a um ano atrás. Eu tive que inventar uma história dizendo que iria vistoriar pessoalmente e secretamente, uma comitiva que trazia documentos importantes, agora vou voltar antes, melhor assim... 
Pelo menos chegarei de surpresa e terei a chance de criar um bode-espiatório alegando crime contra o império e matar algumas pessoas por pura diverçã... Vamos lá estou de bom humor! O que tens para mim? 
-Aqui está a prova de meu sucesso. E retirou de uma bolsa de couro vários medalhões com um escudo real.
-Pode conta-los, verá que toda a família foi exterminada... Alteza! Dizendo com um tom de desprezo.
-Muito bom, mas me parece que você não gosta do que faz... Despreza meu gosto pela morte rapaz? Sabe que sou o imperador e tenho o domínio sobre a vida de meus servos? 
O homem sombrio não responde e olha pela janela preocupado com seu cavalo, pois as núvens que cobriam a lua tinham se tornado carregadas e uma tormenta se aproximava. 
-Rapaz eu sou o imperador, minha vontade é a lei! É tanto lei, que mandei investigar você, parece que não tens um passado, mas pelo menos seu nome eu descobri Vladslau!
-Não me importo, isso é passado, morto e enterrado... Hoje as pessoas me chamam de Mácula! 
-Leopoldo pague o que resta e o acompanhe até a porta... Parece que Vladslau se preocupa mais com sua montaria, do que com sua vida.
O homem retira uma bolsa de veludo e entrega a Mácula, acompanhando-no até a saida da estalagem.
-Escute... Estou interessado em seus serviços, na realidade creio que todo o império, menos José o esteja nesse momento... Muitas famílias nobres morreram nesses ultimos anos, mas agora, com a morte dessa família, não restou mais ninguém que tem coragem de se opor a ele. Sei que está preso a um contrato, mas assim que o contrato acabar, olhe na bolsa que lhe dei, nela há um fundo falso... Lá você irá encontrar mais moedas de ouro, mais precisamente o dobro do que meu irmão está lhe pagando agora... 
-Entendo o que quer... É bem mais nobre matar um imperador do que um menino descalço... Não posso fazer agora, mas daqui algum tempo seu irmão irá cair e sua mão não estará com sangue, mas sim minha lâmina.
Mácula solta sua montaria, monta na sela e acarecia a cabeça do corsel negro, olha para o horizonte escuro, onde os primeiros relâmpagos apareciam. Agora era a hora do retorno, a hora de voltar para casa, um momento de apaziguar seu instinto e se preparar para mais uma missão. Ele estava de volta a sua terra natal, Vladslau retorna para a Transivânia.