sexta-feira, 18 de junho de 2010

Caçador Celeste



Eis a possível imagem do Caçador Celeste, que foi prometido pelos deuses como sinal do início de uma nova era, onde aqueles que eram escravisados, iriam tomar o chicote da mão de seus açoitadores e tornar-se os maiores escravagistas da história.

Papirus Alexandrinus - Capítulo V - Parte II

Correndo pelas areias do deserto, aqueles guerreiros, homens fortes e destemidos, corriam com vigor, na maior velocidade que suas pernas agüentavam, para contar à comunidade o ocorrido, a boa nova, a visão privilegiada que tiveram.

As areias entravam em suas narinas, as lanças ficavam caídas pelo caminho, sussurros de dor e suor caiam nas dunas. Suas pegadas, rastros, vestimentas, armas e seus suores, eram logo soterrados pelas areias, mas mesmo contra tamanha força da natureza, eles não se abalavam, permanecendo a correr. O sol queimava forte a pele dos mesmos, e a cabeça destes guerreiros latejava, a falta de água, a secura do ar, o vento carregado de poeira, parecia uma jornada pelo inferno.

Do alto da ultima duna, eles já conseguiam avistar o leito do Nilo, as crianças, os anciãos e suas esposas, esperando-os, todos apreensivos. A duna era bem alta, e alguns acabaram por cair e rolar, machucando, mas sem muita gravidade.
Os pés dos mesmos estavam em carne viva, sendo que nas areias não se via mais as pegadas, mas sim um rastro de sangue. Não se entendia a motivação para tanto esforço, seria medo, adoração, estupefação, não se sabia.


                                              

Chegando ao povoado eles começam a contar a história, com a fala enrolada, devido ao cansaço, falavam e bebiam água, alguns somente procuraram uma sombra e se deitaram. Após a narrativa fantástica, relatada pelos mesmos, os anciãos se juntaram e discutiram, trancados em um casebre, algo semelhante a uma barraca, só que mais firme, ficaram lá por quatro dias, só abriam a porta para receber água e alguma coisa para comer. Todos do povoado ficaram na frente do casebre, por quatro dias, esperando a resposta do que iriam fazer. Todos temiam a ordem para levantarem o acampamento e seguirem para longe dalí.

Esse povo havia acabado de se estabelecer naquela região, vinham fugidos de hordas de assassinos e ladrões, eles estavam condenados ao extermínio se tentassem enfrentar outros povos.
Antes do raiar do quinto dia, a porta do casebre se abriu, os anciãos saíram e deram a resposta a todos. Eles iriam ficar onde estavam, e tentar reencontrar o ser que fora visto há cinco dias.
Foi escolhido dentre os jovens guerreiros, o que estava em melhor forma, a ele foi dado um rolo de papiro e as ordens de encontrar aquele ser, que provavelmente era um deus. Como algumas antigas profecias diziam que o povo do deserto seria salvo pelo caçador celeste ¹.

O papiro continha algumas profecias e uma grande parte em branco, uma área livre, para começar a ser escrita, contando e registrando os fatos da ascensão do maior povo, aquele que de escravo, iria tomar o açoite e tornar-se o grande escravagista. Estava escrito nas areias do tempo.


(1)  Esta foi a primeira vez na história, que foi relatado a instituição da posição social de um Escriba. Nunca o guerreiro que possuía a obrigação de relatar fora necessário a um povo de tal forma que desta vez. Com o passar dos séculos, o Escriba deixou de ser um guerreiro, para se tornar uma posição social definida. Eram os responsáveis pelos relatórios, pelo armazenamento cultural e também pela interpretação das vontades dos deuses. Chegando a serem ditos, após alguns séculos, como Sacerdotes e Alquimistas.


“Cansados, sofridos, machucados, escravos... Elevados, vencedores, senhores, escravagistas”, cultuados... Enfim deusificados...”